Jogral (do
provençal joglar,
substantivação do adjetivo
latino joculáris,e: 'divertido, burlesco, risível'), na
lírica medieval, até o
século X, era o artista profissional de origem popular - um
vilão, ou seja, não pertencente à nobreza - que tanto atuava nas praças públicas, divertindo o público, assim como nos palácios senhoriais, neste caso assumindo o papel de bufão, com suas
sátiras,
mágicas,
acrobacias,
mímica, etc. No dizer de
Jacinto do Prado Coelho, "homens de condição inferior que ora cantavam música e poesia alheias, ora eles próprios compunham, para tirarem proveito da sua arte". Os jograis podem ser equiparados aos comediantes
latinos (
mimi, histriones, scurrae, thymelici) e aos
scopas germânicos, isto é,
aedos, que, viajando de palácio em palácio, cantavam, como autores ou meros executantes, as
gestas da nobreza bárbara. Segundo Menéndez Fidai, "jograis eram todos aqueles que ganhavam a vida atuando perante um público, para recreá-lo com a música, com a literatura, com charlatanices ou com prestidigitações, acrobacias e mímicas."
A joglaria é bem mais antiga que o
trovadorismo. Na
Península Ibérica e em outras regiões, conforme testemunhos pelo menos desde a época de
Afonso II de Aragão (
1180) o jogral era figura obrigatória em todos os festejos. Jograis e segréis representam a antiga cultura popular da Península, sobretudo da
Galiza. A partir do
século X, os jograis também recitavam
canções de gesta. Alguns jograis, além de executantes, também compunham as suas próprias melodias e poemas ou introduziam variantes nos poemas, adaptando-o ao seu próprio gosto ou inserindo passagens pessoais. Por exemplo, o clérigo Gonçalo de Berceo se dizia "jogral de São Domingos de Silos", pois pusera em versos a biografia do santo. No
século XI, surge nova designação
occitânica para o poeta-músico:
trobador. Da
Provença, que vivia um período de quase dois séculos de paz, vieram os trovadores, que transmitem sua arte refinada aos luso-galegos -
"en maneira de provençal a fazer agora un cantar d'amor". Os jograis, assim como os
menestréis, começam a divulgar a
poesia trovadoresca, cantando-a e tocando instrumentos como a
viela, o
alaúde, ou a
cistre. Após o
século XIV, o termo "jogral" ganhou o sentido de artista popular itinerante. O jogral é como um
poema, podendo ser cantado ou não. Também pode definir-se como a arte de poetizar por duas ou mais pessoas. E consiste em pronunciar
versos engraçados com o propósito de divertir as pessoas e, no caso de antigamente, o rei. Hoje, os que realizam jogral, são os artistas de rua, chamados antigamente
Bobos da Corte, que eram empregados do rei e tinham função de diverti-lo com
rimas,
poemas, jograis, mímicas, brincadeiras, adivinhas,
trava-línguas... Enfim, entreter a
corte. Os jograis exprimiam-se na língua do povo (menosprezada pelos intelectuais), quer fosse o
francês antigo ou outras línguas regionais (
normando,
picardo,
occitano,
bretão), em oposição ao
latim, a língua culta da época. Nesse sentido, distinguiam-se dos
clérigos, que se expressavam em latim, desprezavam a língua vulgar e usavam termos pejorativos, como
joculares ou
histriones, para aqueles que se exibiam nas feiras e praças. Esses clérigos eram os responsáveis pelo registo escrito dos textos. Assim, dado o seu desprezo pela cultura popular, poucos textos nas línguas faladas pelo povo, anteriores ao
século XII, foram escritos, copiados e preservados, exceto por algumas
hagiografias.
No
século XIII, os jograis serão crescentemente desprezados. "Menestrel" é a designação que os músicos da corte passarão a adotar a partir do
século XIV, quando o termo "jogral" passa a ter conotação pejorativa de 'truão, vagabundo'. Os limites entre de classe entre trovadores e jograis são, no entanto, muito imprecisos, exceto pelo fato de que os jograis eram "profissionais", isto é, recebiam dinheiro pelas suas apresentações, ao contrário dos trovadores - ainda que houvesse trovadores que também ganhavam a vida como jograis.
Arnaut Daniel, por exemplo, era da
nobreza, mas atuava como jogral para se sustentar. A partir do
século XIV, a figura do jogral deriva para a simples condição de músico ou de
bobo, e abandona o ofício poético. Um outro tipo, o segrel, que existiu somente na escola
galego-portuguesa, configura uma categoria intermediária entre o trovador e o jogral. Distinguia-se do trovador, por compor a troco de pagamento, e do jogral, por ser um
fidalgo, embora sem recursos para aspirar à condição de
cavaleiresco. O segrel perambulava de corte em corte, a cavalo, acompanhado de seu jogral, ou engajava-se nas hostes reais, para exercer seu ofício de artista.