Segundo Gramsci, quase nunca é possível o domínio bruto de uma classe sobre as demais, a não ser nas
ditaduras abertas e terroristas. Para o pensador sardo, correlacionar poder e classes sociais é, certamente, um imperativo de método, mas uma classe dominante, para ser também dirigente, deve articular em torno de si um bloco de alianças e obter, pelo menos, o
consenso passivo das classes e camadas dirigidas. Para tanto, a classe dominante não hesita em sacrificar uma parte dos seus interesses materiais imediatos, superando o horizonte corporativo, de modo a propiciar, exatamente, a construção de uma
hegemonia ético-
política.
Ao estudar os mecanismos de construção desta hegemonia, Gramsci chega a um conceito fundamental na sua teoria política, a saber, o conceito de
Estado ampliado, segundo o qual o
Estado não é um puro instrumento de força a serviço da classe dominante, tal como o definiam versões
mecanicistas do próprio
marxismo, mas uma força revestida de
consenso,
coerção acompanhada de
hegemonia. O Estado ampliado, assim, cabe na fórmula: sociedade política +
sociedade civil. E, nas sociedades de tipo ocidental, a hegemonia, que se decide nas inúmeras instâncias e mediações da sociedade civil, não pode ser ignorada pelos grupos sociais subalternos, que aspiram a modificar sua condição e a dirigir o conjunto da sociedade.