Escritora japonesa, autora do clássico
Genji Monogatari ou a
História de Genji escrita no ano de 1007, Murasaki Shikibu (978? – 1026?) nasceu na antiga capital do Império do Sol Nascente, dita Heian-Kyo, hoje
Quioto. De origem aristocrática,
Lady Murasaki, como é conhecida no ocidente, viveu na corte do imperador
Fujiwara no Michinaga, que gorvenou o
Japão no final do século X — época conhecida como o
Período Heian. Como em qualquer sociedade
medieval, as mulheres da corte japonesa, embora muito privilegiadas em comparação com as das classes mais baixas, estavam sujeitas a uma série de regras e limites. Além de totalmente isoladas do mundo externo, elas também viviam limitadas pela própria
língua, visto que desconheciam o vocabulário da linguagem culta, que era então de uso exclusivo dos eruditos do sexo masculino. A despeito das circunstâncias, um grupo de nobres japonesas talentosas criou a melhor
literatura da época, dentre as quais Murasaki Shikibu é o nome mais eminente. No Japão do período Heian, assim como na
Grécia clássica, no
Islã, na
Índia pós-védica e na
Europa medieval, as mulheres estavam proibidas de ler o que se considerava literatura séria: deviam restringir-se à diversão banal e frívola das novelas e fábulas que os eruditos confucianos desprezavam. Mesmo que todas as bibliotecas da literatura chinesa e japonesa estivessem abertas para elas, as mulheres do período Heian não identificariam a realidade do seu cotidiano nas narrativas de autoria masculina. Portanto, em parte para ampliar o acervo da literatura feminina, e em parte para dar expressão à sua visão do mundo, elas criaram uma literatura própria. Para registrá-la, criaram também um estilo de
escrita caracterizado pela transcrição
fonética da língua que tinham permissão de falar, o
Kanabungaku, um japonês expurgado de quase todas influências de palavras chinesas. Essa língua escrita veio a ser conhecida como
escrita das mulheres e, estando restrita à mão feminina, adquiriu, aos olhos dos homens que as dominavam, uma qualidade erótica.