Ars nova (em português: arte ou técnica nova) foi o nome dado em sua origem, estritamente, a um novo método de
notação musical,
ars nova notandi (nova técnica de notação); porém, as grandes facilidades de escrita que o método introduziu propiciaram o desenvolvimento de todo um novo
estilo musical, que acabou por receber o mesmo nome, vigorando no século XIV, especialmente na
França e na
Itália. Em contraposição, a técnica notacional e o estilo do período precedente passaram a ser conhecidos como
Ars antiqua (arte antiga). Suas principais distinções formais e estéticas em relação à fase anterior apareceram nos campos do
ritmo, da
harmonia e da temática, sendo privilegiados os gêneros de música profana; também foram criadas ou se popularizaram várias estruturas novas de composição, como o
moteto e o
madrigal. No terreno da notação propriamente dita aperfeiçoou-se o sistema da
pauta, se modificaram desenhos e valores de várias
notas e se introduziram diversos símbolos inteiramente novos, provendo para os compositores e intérpretes um instrumento gráfico muito mais flexível e exato para descrever e transmitir os avanços técnicos e os crescentes e sutis refinamentos da música prática. No final do período as inovações receberam ainda maior sofisticação, dando origem à escola chamada
Ars subtilior, a arte mais sutil.
Embora dois sistemas principais de notação houvessem emergido nos cerca de 150 anos de prevalência dos princípios da
Ars nova, um na França e outro na Itália, o sistema italiano não foi capaz de assegurar uma penetração em larga escala, e logo desapareceu diante da maior eficiência do sistema francês. Tantas mudanças foram o reflexo do criativo e inquisitivo período de transição entre a
Idade Média e o
Renascimento, quando o universo das primeiras fases da Idade Média, dominado quase monoliticamente pela
Igreja Católica, deu lugar a uma sociedade mais laicizada, onde a influência do
humanismo, da
escolástica, de uma tendência a uma abordagem
lógica e
racionalista do conhecimento, e do pensamento idealista da civilização clássica greco-romana, ora redivivo, se tornaram forças determinantes em toda sua evolução. O legado dessa fase de intensa atividade e renovação da música foi, na técnica, a sistematização dos componentes essenciais do sistema de notação musical usada hoje em dia e o lançamento das bases da
polifonia a várias vozes e da harmonia moderna, e, na estética, a libertação dos compositores de sua dependência das formas eclesiásticas para veicular sua melhor música, possibilitando ainda que suas personalidades criativas individuais ganhassem legitimidade e encontrassem um novo espaço de expressão. Além disso, a
Ars nova foi uma inspiração para os compositores do século XX, estimulando pesquisas no terreno rítmico, perceptual, estrutural e harmônico que levaram à revolução de toda a arte musical moderna e também, especificamente, à criação da técnica
serial.