The Tempest (
A Tempestade no original) é uma
peça teatral do
dramaturgo inglês William Shakespeare, que acredita-se ter sido escrita entre 1610 e 1611, e tida como muitos críticos como a última peça escrita pelo autor. A obra se passa numa ilha remota, onde Próspero,
duque de Milão por direito, planeja restaurar sua filha, Miranda ao poder utilizando-se de ilusão e manipulação. Próspero então invoca a
epônima tempestade, visando assim atrair seu irmão Antônio, que lhe usurpou a posição de duque, e seu cúmplice, o rei Alonso de
Nápoles, para a ilha. Lá, suas maquinações acabam por revelar a natureza vil de Antônio, provocando a redenção do rei, e o casamento de Miranda com o filho de Alonso, Ferdinando. Não existe uma fonte única óbvia para a trama da peça, porém os estudiosos viram nela paralelos com o
Naufragium de
Erasmo de Roterdã,
De orbe novo, de Peter Martyr, e um relato testemunhal de William Strachey do
naufrágio do navio
Sea Venture nas ilhas de
Bermuda. Além disso, uma das falas de Gonçalo foi derivada de um dos ensaios de
Montaigne,
Sobre os Canibais, e boa parte do discurso de renúncia de Próspero é uma citação literal de uma fala de
Medeia no
poema Metamorfoses, do autor
romano Ovídio. A
máscara do quarto ato pode ter sido uma adição posterior ao texto, possivelmente em homenagem ao casamento da princesa
Isabel da Boêmia com
Frederico V, em 1613. A peça foi publicada pela primeira vez no
First Folio, em 1623.
Sua história se baseia fortemente na tradição do romance, e foi influenciada pela
tragicomédia, pela
mascarada das cortes e, talvez, pela
commedia dell'arte. Sua diferença das outras peças de Shakespeare está na maneira com que segue um estilo
neoclássico mais rígido e organizado. Alguns críticos vêem na obra uma preocupação explícita em sua própria natureza enquanto peça, frequentemente traçando linhas entre a "arte" de Próspero e as ilusões teatrais, e os críticos mais antigos viam até mesmo Próspero como uma representação do próprio Shakespeare, e sua renúncia da magia como que indicando uma espécie de adeus do dramaturgo aos palcos. A peça mostra Próspero como um
mágico racional, e não ocultista, apresentando um contraste a ele no personagem da bruxa Sicorax, cuja magia frequentemente é descrita como destrutiva e terrível, enquanto a de Próspero é maravilhosa e bela. A partir dos arredores de 1950, com a publicação de
Psicologia da Colonização, de Octave Mannoni,
A Tempestade passou a ser vista cada vez mais através da lente da teoria
pós-colonial - exemplificada em adaptações como
Une Tempête, de
Aimé Césaire, que se passa no
Haiti; existe até mesmo um jornal acadêmico sobre a crítica pós-colonial que recebeu o nome de um dos personagens da peça,
Caliban. Talvez devido ao papel reduzido que as mulheres desempenham na trama,
A Tempestade não atraiu a análise de muitas críticas femininas; a personagem Miranda costuma ser vista tipicamente como alguém que internalizou a ordem patriarcal das coisas, vendo a si mesma como sendo subordinada a seu pai.
A peça não atraiu uma quantidade significativa de atenção antes do fechamento dos teatros, 1642, e só conquistou popularidade após a
Restauração Inglesa - e ainda assim apenas em versões adaptadas. Em meados do século XIX as produções teatrais começaram a reencenar o texto original shakespeariano, e, no século XX, críticos e acadêmicos deram início a uma importante reavaliação do valor da peça, a ponto de hoje em dia ela ser considerada uma das principais obras de Shakespeare. Foi adaptada diversas vezes, em diversos estilos e formatos; na música, pelo menos 46
óperas, por compositores como
Fromental Halévy,
Zdenek Fibich e Thomas Adès; obras
orquestrais de
Tchaikovsky,
Arthur Sullivan e
Arthur Honegger; e canções de diversos artistas, como
Ralph Vaughan Williams,
Michael Nyman e
Pete Seeger; na
literatura, o poema
With a Guitar, To Jane, de
Percy Bysshe Shelley, e
The Sea and the Mirror, de
W. H. Auden; romances, como o já supracitado de Aimé Césaire e
The Diviners, de Margaret Laurence; na
pintura, por
William Hogarth,
Henry Fuseli e
John Everett Millais; e no
cinema, desde uma versão colorida a mão de uma encenação teatral de 1905
Herbert Beerbohm Tree, passando pela
ficção científica Forbidden Planet, de 1956, até o filme
Prospero's Books, dirigido por
Peter Greenaway em 1991, com
John Gielgud no papel de Próspero.